“Certamente Deus criou as mulheres para um melhor fim, que para trabalhar em vão toda sua vida”.

                                                                        Nísia Floresta

No meu último post, falei um pouquinho sobre algumas mulheres viajantes que fizeram história devido aos seus espíritos desbravadores – você pode conferir aqui: https://wordpress.com/post/adviajandum.com.br/869.

Uma delas, Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida pelo pseudônimo Nísia Floresta, era brasileira, nascida no estado do Rio Grande do Norte.

Confesso que apesar de eu já ter passado, anteriormente, pela cidade de Nísia Floresta/RN e algumas de suas praias, eu só descobri a história de Nísia (mulher) recentemente, quando fui pesquisar sobre mulheres viajantes inspiradoras. Talvez pelo fato de que a memória de Nísia não é muito reconhecida, nem preservada, ao menos no Brasil.

Infelizmente, apesar de sua importância histórica, Nísia Floresta tem sido vítima do que os pesquisadores chamam de memoricídio: esquecimento de seu nome da história oficial.

Com isso em mente, aproveitei minha última estadia em Natal/RN para fazer uma visita à cidade de Nísia Floresta, com o objetivo de conhecer os poucos lugares que buscam homenagear a escritora.

Aqui vou contar, então, um pouco mais sobre essa pioneira e, também, sobre a visita à cidade que leva o seu nome. Aproveito para dar algumas dicas sobre o lugar. Bora? 😉

Quem foi Nísia Floresta:

foto: Wikipédia

Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida pelo pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta, ou apenas Nísia Floresta, nasceu em 12 de outubro de 1810, no município de Papary/RN, que, posteriormente, teve o nome alterado para Nísia Floresta, em homenagem a essa mulher à frente do seu tempo.

Nísia, que era filha de um advogado português e de uma herdeira de família tradicional, foi forçada a se casar, aos 13 anos de idade, com um proprietário de terras local, porém, o casamento durou poucos meses, tendo ela rompido o relacionamento e voltado para a casa dos pais, apesar do julgamento da sociedade da época. Alguns anos depois, ela iniciou um namoro com Manuel Augusto de Faria Rocha, acadêmico da faculdade de Direito de Olinda, esse sim, considerado seu grande amor e com quem teve uma filha, Lívia Augusta.

Nísia é conhecida por ser a primeira educadora feminista no Brasil. Seu primeiro livro Direitos das mulheres e injustiça dos homens foi escrito aos seus 22 anos. Ela entendia as mulheres como importantes figuras sociais e, ao longo de sua vida, escreveu outras 14 obras defendendo os direitos das mulheres, dos índios e escravos. Em 1838, aos 28 anos de idade, Nísia fundou o Colégio Augusto, uma escola para meninas, no Rio de Janeiro, em uma época em que vigorava o seguinte ditado popular: “o melhor livro é a almofada e o bastidor”, o que representava nada menos do que a realidade imposta a muitas mulheres. Esse cenário mudou quando a escola de Nísia Floresta passou a ensinar às meninas gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências naturais, matemática, música e dança.

Em 1849, Nísia deixou a direção do Colégio Augusto e partiu para a Europa, tendo viajado para diversas cidades da Itália e da Grécia, ocasião em que escreveu seus relatos de viagens, condensados no livro Três anos na Itália seguidos de uma viagem à Grécia. Ela também viveu em Paris, Londres, Berlim, Lisboa e em cidades da Suíça e Espanha. Estabeleceu residência definitiva em uma cidade do interior da França, onde faleceu, em 1885, vítima de pneumonia.

Seu pseudônimo, Nísia Floresta Brasileira Augusta, foi escolhido em homenagem à fazenda onde nasceu (chamada de Floresta); ao Brasil e ao seu grande amor e companheiro, Manuel Augusto.

Em 1954, quase 70 anos depois de sua morte, seus despojos foram levados para a sua cidade natal e hoje encontram-se depositados em um túmulo que serve como memorial.

Fontes: https://educacaointegral.org.br/reportagens/nisia-floresta/

https://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%ADsia_Floresta_(escritora)

A cidade de Nísia Floresta:

A pequena cidade de Nísia Floresta está localizada a cerca de 48 km da capital Natal/RN, sentido litoral sul. Possui em torno de 28 mil habitantes e um extenso litoral, formado pelas praias de Pirangi do Sul, Búzios, Barra de Tabatinga, Camurupim e Barreta. O centro da cidade é bem pacato, com jeitinho de interior, uma praça central bem cuidada e gente simples e simpática. Já suas praias são mais movimentadas, recebendo turistas e moradores da capital potiguar.

Como chegar: partindo de Natal, o acesso pode ser via Rota do Sol (RN063) ou pela BR101, sentido litoral sul. É só programar no GPS que não tem erro!

O que fazer/visitar – tour de 1 dia em Nísia Floresta/RN:

  1. Museu Nísia Floresta: o museu foi fundado em março de 2012, sendo fruto de um processo de mobilização comunitária. Sua finalidade é preservar e difundir a memória e história da escritora, jornalista e poetisa Nísia Floresta.

Endereço: Praça Coronel José de Araújo, nº 135, no centro de Nísia Floresta.

Horário de funcionamento: o museu funciona apenas durante os dias da semana, ficando fechado aos finais de semana. De segunda a sexta-feira, as visitas podem ser feitas das 7h às 11h, fechando para o almoço e reabrindo por volta de 13:30, até às 16h.

Infelizmente, devido ao horário de funcionamento, não consegui visitar o interior do museu, já que estive na cidade em um sábado.

  • Mausoléu/Memorial de Nísia Floresta: os despojos de Nísia vieram para o Brasil em 1954, inicialmente para Recife, depois para Natal e, finalmente, para a pequena cidade de Nísia Floresta, onde foram sepultados em um mausoléu, construído em sua homenagem. Há relato de que o local do Memorial coincide com o pedaço de terra onde Nísia nasceu, a fazenda Floresta.

Endereço: Rua Acurso Marinho, s/n. OBS: Fica um pouquinho depois do restaurante Camarão do Arnaldo, que é bem famoso na cidade.

  • Igreja Nossa Senhora do Ó:  a igreja matriz de Nossa Senhora do Ó teve sua construção iniciada em 1703, quando o povoado Papary ganhava suas primeiras ruas. As obras foram concluídas 52 anos depois, em 1755. Conta-se que a santa apareceu misteriosamente boiando em um buraco que hoje existe dentro da igreja. Naquela época, o buraco existia ao ar livre, por não haver igreja ainda. A água desse buraco é de um rio subterrâneo, localizado embaixo da igreja.

Eu incluí uma visita a essa igreja durante o meu tour por Nísia Floresta porque achei ela bem bonitinha e muito conservada. Seu interior irradia aquela simplicidade, paz e silêncio que só as igrejinhas de pequenas cidades têm, então acho que super vale a visita, para quem aprecia esse tipo de atrativo. Sem contar que ela fica a poucos passos do Museu Nísia Floresta.

Endereço: Praça Coronel José Araújo, nº 81, centro, Nísia Floresta.

  • Baobá centenário: para quem já leu O pequeno príncipe e se recorda dos baobás por ele cultivados em seu pequeno planeta, fica a dica para conhecer um imenso baobá centenário, localizado bem no centro de Nísia Floresta. A árvore foi plantada em 1877, contando com mais de 140 anos e possui cerca de 10 metros de diâmetro. Não à toa, ela virou atração turística em Nísia Floresta e passou por um processo de tombamento histórico por meio de lei federal e municipal. É realmente imponente!

Endereço: Marco VII, centro, Nísia Floresta.

  • Engenho Papary: o Engenho Papary está localizado no bairro Timbó, na zona rural de Nísia Floresta, e é parada obrigatória para quem gosta de conhecer e degustar cachaças das mais variadas. As cachaças são separadas por estado de origem; o atendimento é ótimo e você fica à vontade para a degustação.

Destaque para a Cachaça Papary, sabor cravo e canela, que é docinha e deliciosa e para o Gin Pimenta Rosa, que é novidade no local e pode ser degustado geladinho, com um preparado de frutas.

Endereço: Estrada RN063, Timbó, Nísia Floresta.

Horário de funcionamento: de segunda a domingo, das 9h às 17h.

Essas são as dicas para um breve tour histórico-cultural por Nísia Floresta. Você consegue visitar todos esses lugares acima em uma manhã. E se tiver um tempinho a mais, e quiser ver um pouco das belezas naturais do local, minha sugestão é uma esticadinha até o Mirante de Tabatinga e, após, uma visita à Lagoa do Carcará ou Lagoa de Arituba.

  • Mirante de Tabatinga: conhecido como Mirante dos Golfinhos, esse mirante, localizado no alto de falésias, na praia de Barra de Tabatinga, em Nísia Floresta, é um local com uma vista panorâmica incrível da praia que recebe a visita de golfinhos e tartarugas. É quase impossível você não avistar um ou outro. O local não tem acesso à praia, mas vale MUITO a visita. Normalmente, quem está de passagem por ali já tem a atenção voltada para as esculturas de tartarugas e golfinhos (que fazem a alegria de crianças e crianças crescidas), sendo um lugar ideal para lindas fotos.

Endereço: Av. Cel, Paulo Salema, 2565-2497, entre as praias de Búzios e Barra de Tabatinga, Nísia Floresta/RN.

  • Lagoa do Carcará: Nísia Floresta possui cerca de 20 lagoas e, das que eu tive oportunidade de conhecer, a do Carcará foi a que achei a mais bonita, com as águas mais cristalinas. Na primeira vez em que visitei essa lagoa, não tive muita sorte porque estava chuviscando e, assim, a água ficou um pouco turva. Mas, das outras vezes em que estive ali, em dias de sol, realmente fiquei encantada com as águas azuis esverdeadas cristalinas. Outro ponto positivo da lagoa do Carcará, a meu ver, é o fato de que as águas são rasas, ao contrário do que acontece em outras lagoas nos arredores de Nísia e Natal.

Como chegar: o acesso é por estrada de terra. Então é recomendável baixar o mapa offline, em aplicativos de GPS, já que não é garantido que a internet funcione ao longo de todo o trajeto. Saindo do Engenho Papary ou do centro de Nísia Floresta, é só pesquisar no aplicativo “Lagoa do Carcará” e seguir o trajeto indicado. O percurso não é muito bem sinalizado, mas você vai encontrar algumas placas pelo caminho e até mesmo alguns “guias”, que se oferecem para te levar até lá, por um certo valor. Mas com o GPS funcionando, dá pra chegar numa boa.

  • Lagoa de Arituba: o acesso à Lagoa de Arituba é mais fácil, porém, os preços, ali, são mais salgados do que na Lagoa do Carcará. A Lagoa de Arituba é mais estruturada, digamos assim, do que a do Carcará. Basta você optar por um dos pontos de apoio no entorno. Os restaurantes servem refeições e disponibilizam banheiros e você também pode consumir produtos dos vendedores ambulantes que passam por ali. É uma lagoa de água doce, mas um pouco mais escura e tem pontos que são bem fundos.

Como chegar: a Lagoa de Arituba fica logo depois da praia de Tabatinga, então é só procurar pelas placas sinalizando o caminho.

              Onde comer em Nísia Floresta:

              Se você optar por almoçar em Nísia, antes de ir para o Mirante e/ou lagoas, a dica vai para o famoso restaurante Camarão do Olavo, que fica bem perto do letreiro, na entrada da cidade. É um restaurante tradicional, que serve comida regional e, também, frutos do mar. Possui um espaço kids e aceita pets.

Restaurante Camarão do Olavo: Rua João Batista Gondin, nº 5, Centro, Nísia Floresta.

Outra sugestão, caso opte por almoçar em Nísia antes de seguir para as lagoas, é o Marinas Camarões Estação Papary. Também estive no local, conferindo as instalações e o cardápio, mas, por questão de logística do passeio, optamos por almoçar na Lagoa de Arituba. Fica a recomendação porque o lugar é super fofo, rústico e arrumadinho. Fica dentro de uma antiga estação de trem, em um prédio tombado pelo patrimônio histórico, com uma linda área verde no entorno.  O cardápio tem opções bem interessantes de pratos individuais ou que servem de 2 ou mais pessoas. Os preços são intermediários.

Restaurante Marinas Camarões: Estação Papary, logo no começo da rodovia que dá acesso à Nísia Floresta, assim que sai da BR-101 e entra na RN-063, lado direito.

            * Casa da tapioca: vai por mim, esse lugar não pode ficar de fora do seu passeio por Nísia Floresta!

               A Casa da Tapioca fica na praia de Tabatinga, quase em frente à rotatória. Está perto do Mirante dos Golfinhos e é parada obrigatória para quem quer tomar um cafezinho no final da tarde, depois da praia ou lagoa, acompanhado de tapioca de coco quentinha, feita em forno de pedra, ou de outras delícias que lembram a casa da vó da gente, como canjica (= curau) servida na quenga (= casca do coco seco), beiju ou bolos caseiros.

É um lugar bem rústico, com chão de areia e uma decoração criativa e divertida.

O local funciona há 73 anos e é administrado pela mesma família, que de geração em geração assumiu e deu seguimento à tradição da avó/matriarca.

Você pode, inclusive, visitar o tradicional forno onde as tapiocas são preparadas. A tapioca é simples, de coco, sem recheio, seguindo a tradição da família. E é uma delícia! Também provei o beiju crocante e levei uma canjica embora e estava tudo muito gostoso.

É, realmente, um lugar icônico. Recentemente, aliás, o Zeca Camargo esteve no local, durante a gravação do programa Zeca pelo Brasil, da Band.

Você também não vai querer perder!

Casa da tapioca: Avenida José de Alceu, nº 1400, Nísia Floresta.

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